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A ALMA DA CIRURGIA PLÁSTICA

20 de abril de 2020

 

Após 37 anos na Cirurgia Plástica, pude vivenciar e confirmar que a frase: ” O Cirurgião Plástico é um Psiquiatra de bisturi nas mãos” é verdadeira!

 

A pessoa que se propõe a se submeter a qualquer cirurgia plástica está com insatisfação da alma. Ela precisa realizar um equilíbrio do seu “eu”, seja numa cirurgia de rinoplastia, mamaplastia com ou sem próteses, abdominoplastia etc.

 

A balança precisa se equilibrar. De um lado alterações morfológicas reais; de outro, sonhos e esperanças, muitas vezes exigências exageradas. Todos têm suas expectativas, mas é dever do cirurgião identificar excessos e, se possível (excetuando os dismorfismos corporais) evitar operá-las e encaminhá-las (os) ao psicólogo ou psiquiatra, evitando sobremaneira aborrecimentos para ambos, médico e paciente.

 

Podemos nos enganar às vezes, mas os anos nos ensinam e, felizmente, as identificamos e as encaminhamos aos colegas para tratamento. Por outro lado, temos as pessoas felizes, com autoestima elevada e que se aceitam maravilhosamente bem, por mais defeitos que tenham.

 

O professor Pitanguy, ao ser questionado sobre o porquê de nunca ter se submetido a uma intervenção de cirurgia plástica, respondeu: ” O meu ego é condescendente comigo”.

 

A empatia entre médico e paciente deve ser real. São vias de mãos duplas e a base de um bom relacionamento, mesmo em caso de alguma intercorrência, é que nunca se perca a confiança no profissional, pois ele é o mais capacitado para solucionar este problema. Não adianta ficar mudando de médico e procurando métodos milagrosos. Seu médico é seu amigo.

 

Hoje, com certeza, falo mais ”nãos” do que no início da carreira. E esta providência torna-se imperiosa quando não se sentir confiante diante de expectativas exacerbadas, irreais, ou cobranças indevidas de sucesso e perfeição. Não somos deuses, e não somos perfeitos, como dizia o professor Perseu Lemos, ícone da especialidade, “Nós atingiremos a perfeição somente quando nossas asas de cera (orgulho) não se derreterem com o calor do Sol” parafraseando Ícaro na mitologia grega.

 

O Olhar consegue captar segredos, as palavras apenas corroboram. O médico tem que adentrar o subconsciente e compreender seu/sua paciente. Sempre me pergunto o que motivou esta pessoa a procurar cirurgia plástica naquele momento de sua vida! Talvez esteja numa fase em que está se cobrando muito um corpo perfeito, às vezes ridicularizada pelos próprios companheiros devido a alguma gordurinha que os anos ou gestações lhe ofertou, (bulling mesmo).

 

Mas o que vai modificar em sua vida esta cirurgia? Como será beneficiada com este ou aquele procedimento? Será mais feliz? O médico precisa compreender e com certeza estará na linha de frente nesta batalha para ajudá-la e protegê-la. Já lhe foi passada a espada (bisturi) para enfrentar tudo, com sua capacidade, humildade e fé. Todos os inimigos o serão também de ambos, médico e paciente.

 

Mas compreender este ponto crucial será o pilar do sucesso na cirurgia. Temos que ouvir mais que falarmos, sorrir mais e abraçar. A maturidade nos deixa mais humanos e os melhores médicos devem ter cabelos brancos ou uma leve barriguinha, e coração mole. Temer o imponderável e ser cauteloso, respeitando as intercorrências, complicações e fatalidades. Ser medroso o fará digno de representar sua paciente, a qual lhe deu uma missão a ser cumprida com segurança.

 

 

 

Dr. Jorge Khauan
Cirurgião Plástico – CRM MT – 2791 – RQE 758
– Membro Especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica